Os profissionais de audiologia sabem bem que o uso de aparelhos auditivos melhora a qualidade de vida de pessoas com surdez, diminuindo os efeitos psicológicos e socioemocionais negativos da perda auditiva. Mas considerando a enorme gama de recursos terapêuticos e avanços tecnológicos disponíveis atualmente podemos considerar que a adesão à reabilitação auditiva ainda tem muito que melhorar.

Muitas vezes podemos pensar que o investimento financeiro necessário para se adquirir um aparelho auditivo é o empecilho. Mas um estudo mostrou que mesmo em países desenvolvidos, em que as próteses são ofertadas gratuitamente com facilidade, como no Reino Unido e Noruega, em média apenas um terço dos indivíduos que poderiam se beneficiar do uso de aparelhos auditivos aderem ao tratamento (1).

Diversas pesquisas identificaram outros fatores importantes que influenciam as pessoas a aderir à reabilitação auditiva:

Capacidade de percepção da dificuldade auditiva (2). Pessoas menos conscientes das suas dificuldades de comunicação devido à surdez tem maior resistência ao tratamento.

Não se sentir estigmatizado pela perda auditiva (3). O estigma é um fator de rejeição da avaliação auditiva, negação da perda e da reabilitação auditiva.

Maior abertura a novas experiências (4). Em média idosos com perda auditiva que não utilizam aparelhos auditivos também não utilizam outras tecnologias para informação e comunicação.

Apoio e atitudes positivas de familiares e pessoas próximas (5). Pessoas do convívio diário influenciam e podem dar suporte na adaptação dos aparelhos auditivos;

Expertise dos profissionais da saúde (6). Especialmente fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. Estes profissionais além de preparados tecnicamente, devem estar atentos para entender e acolher as necessidades individuais de cada pessoa. Compartilhando informações sobre saúde auditiva, auxiliando e fazendo com que as pessoas com perda auditiva e seus familiares sejam o centro dos cuidados e estejam envolvidos ativamente no processo de reabilitação.

Saiba mais sobre saúde auditiva:

Relação entre perda de audição, uso de aparelho auditivo e cognição dos idosos

A importância da reabilitação auditiva precoce para o desenvolvimento da linguagem oral de crianças com surdez

Motivações x Barreiras para a busca da reabilitação auditiva

Referências:

1. Hougaard S, Ruf S, Egger C. EuroTrak + JapanTrak 2012: Societal and Personal Benefits of Hearing Rehabilitation with Hearing Aids. Hearing Review. 2013 [acesso em 3 jul 2018]. Disponível em: Link

2. Carniel CZ, Sousa JCF de, Silva CD da, Fortunato-Queiroz CAU, Hyppolito MA, Santos PL. Implicações do uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual na qualidade de vida de idosos. CoDAS. 2017  [acesso em 3 jul 2018];  29( 5 ): e20160241. Disponível em: Link

3. Margaret IW. The Stigma of Hearing Loss. The Gerontologist. 2010 [acesso em 3 jul 2018];50 (1):66–75. Disponível em: Link

4.Gonsalves C, Pichora-Fuller MK. The Effect of Hearing Loss and Hearing Aids on the Use of Information and Communication Technologies by Community-Living Older Adults. Canadian journal on aging = La revue canadienne du vieillissement. 2008 [acesso em 3 jul 2018];27 (2): 145-57. Disponível em: Link

5.Hickson L, Meyer C, Lovelock K, Lampert M, Khan, A. Factors associated with success with hearing aids in older adults. International Journal of Audiology. 2014;53(Suppl. 1): S18–S27.

6.Grenness, C, Hickson, L, Laplante-Le´vesque, A, Davidson, B. Patient-centred care: A review for rehabilitative audiologists. International Journal of Audiology. 2014;53(Suppl. 1): S60–S67.

Mariane Gomes | Fonoaudióloga | CRFa 6-7530