Acessibilidade por legendas: porque pessoas com surdez reabilitadas com próteses auditivas podem necessitar de legendas em vídeos?
Pessoas com perda auditiva, mesmo com uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares, podem ter dificuldade em manter o foco e compreender a fala em situações sonoras complexas como em palestras e vídeos. Quando há sons competitivos, como trilha sonora, ou quando o assunto da mensagem é pouco familiar, assistir um filme ou até mesmo vídeos curtos na internet podem demandar um esforço auditivo enorme.
O esforço auditivo refere-se aos recursos de cognição e de atenção que as pessoas com audição normal ou não precisam para compreender a fala em uma ambientes ruidosos (1). Fatores como idade e perda auditiva influenciam seu desempenho, sendo que usuários de próteses auditivas podem ter o sinal de fala distorcido em detalhes como na frequência do som, em comparação com a audição normal, o que torna esforço auditivo mais trabalhoso (2).
A acessibilidade para pessoas com surdez é muito conhecida pela disponibilização de intérprete de Libras, mas esse acesso pode não atender pessoas com surdez que utilizam a língua portuguesa e realizam grande esforço auditivo para compreensão da fala. Uma forma de atender a demanda de pessoas com deficiência auditiva reabilitadas com próteses é a disponibilização de legendas descritivas em meios de comunicação que utilizam áudio em geral, uma antiga reivindicação de pessoas com perda de audição para maior acessibilidade.
Saiba mais sobre a acessibilidade para surdos no cinema
Tipos de legendas
A legenda comum, vista frequentemente nos cinemas em filmes legendados, descreve somente a fala das pessoas, enquanto a legenda descritiva ou legenda oculta descreve a fala das pessoas e outros elementos sonoros importantes na narrativa, como informações sobre trilhas sonoras. Torna mais fácil a compreensão de produções audiovisuais não só por pessoas com surdez, mas também por pessoas que momentaneamente estejam impossibilitadas de ouvir.
Ação civil pública para a acessibilidade
Desde de 2016 uma ação civil pública solicita para pessoas com deficiência auditiva a disponibilização de legendas abertas ou legendas descritivas na forma “closed caption”, janela com intérprete de Libras, e audiodescrição para pessoas com deficiência visual. No início de dezembro de 2018 uma decisão liminar da Justiça Federal em São Paulo, a partir de um requerimento do Ministério Público Federal, estabeleceu o prazo de 4 meses para que as salas de cinema em todo o país tenham tecnologias que possibilitem a pessoas com deficiência visual ou auditiva compreendam o conteúdo dos filmes em cartaz. Medidas como essa vem para assegurar o cumprimento do artigo 44 do Estatuto da Pessoa com Deficiência (3) e garantir acesso às obras audiovisuais. O ano de 2019 já promete ser um ano mais acessível para todos.
Acessibilidade em todos os lugares
A legenda pode, deve e vem sendo implementada como uma ferramenta para maior acessibilidade de pessoas com surdez usuárias da língua portuguesa em diversos ambientes, como em aulas, campanhas de marketing e especialmente no meio digital. Empresas como Google, com o Youtube, e Microsoft, com o Skype, percebendo a demanda de milhões de pessoas interessadas em informação acessível estão disponibilizando recursos para legendas automáticas em vídeos.
1.Rönnberg J, Lunner T, Zekveld A, P Sörqvist, Danielsson H, Lyxell B, Pichora-Fuller MK. The Ease of Language Understanding (ELU) model: theoretical, empirical, and clinical advances. Frontiers in Systems Neuroscience. 2013 [acesso em 14 dez 2018]; 7 (31). Dísponível em: Link
2. Pals C, Sarampalis A, van Dijk M, Başkent D. Effects of Additional Low-Pass–Filtered Speech on Listening Effort for Noise-Band–Vocoded Speech in Quiet and in Noise. Ear and Hearing. 2018 [acesso em 14 dez 2018]. Disponível em: Link
4. Brasil. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: Link
Mariane Gomes | Fonoaudióloga | CRFa 6-7530