Diversidade, inclusão e transformação
Muito se fala em inclusão das pessoas com deficiência, mas como isso se reflete no mercado de trabalho? Será que as empresas e a sociedade estão realmente comprometidas com a integração desses trabalhadores ou apenas cumprindo cotas? E a situação específica de quem tem perda auditiva? Acompanhe o que o eauriz apurou.
Desde a criação da Lei Federal nº 8.213/91, conhecida como lei de cotas, a empregabilidade das pessoas com deficiência passou a ser discutida com mais frequência no mundo corporativo. De lá para cá, registrou-se um crescente aumento na contratação dos trabalhadores e o questionamento é: as organizações estão realmente preparadas e abertas para isso ou apenas estão fugindo das penalidades do não cumprimento da lei? Veja, na página ao lado, o mapa de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho no Brasil. Ao analisar os números, pode-se constatar que há sim um aumento da inserção de pessoas com deficiência no mercado, por outro lado nota-se também que a integração está ainda longe de ser a realidade do país. Uma quantidade significativa de pessoas ainda está em busca de oportunidade de trabalho e de formação adequada. Apesar disso, a visão de Carolina Ignarra – sócia fundadora da empresa Talento, que é especialista em recrutamento de pessoas com deficiência – é positiva e ela acredita que a tendência é ampliar as oportunidades e a qualidade da recepção desses colaboradores às empresas. “O mercado de trabalho para pessoas com deficiência está em constante evolução. Paralelamente, percebo a preocupação a respeito da qualidade da inclusão, pois não basta apenas contratar devido à obrigação da lei. Hoje, já existem demandas que transcendem a contratação, há investimentos em pesquisa de acompanhamento, planejamento de carreira que visam o desenvolvimento humano destes profissionais”, afirma Carolina. Nesse contexto da inclusão das pessoas com deficiência, a situação dos trabalhadores com perda auditiva apresenta alguns entraves específicos, como veremos a seguir, em função da maior complexidade de comunicação.
Pessoas com perda auditiva nas empresas
Todos os grupos inseridos na categoria PCDs (Pessoas Com Deficiência) possuem características e necessidades específicas, que devem ser consideradas pelas empresas na hora do recrutamento e para a real integração dessas pessoas à equipe e à cultura organizacional. Em se tratando de pessoas com perda auditiva, há desafios além. A principal barreira encontrada hoje é a dificuldade de comunicação entre o funcionário com surdez e os demais membros da equipe. Mas, será que as organizações estão se preparando de forma correta para essa recepção? Grande parte das empresas ainda peca na criação de programas de desenvolvimento e integração do trabalhador com perda auditiva e isso pode gerar mais barreiras à adaptação do trabalhador e, consequentemente, resistência para a contratação, como explica Carolina:
“Como são muitas as dúvidas e receios de contratar um profissional que, por exemplo, comunica-se somente por LIBRAS , os RHs se tornam resistentes a incluir as pessoas com surdez em processos seletivos. Isso é um grande erro, ter o pensamento de não contratar achando que não dará certo ou será trabalhoso. Os desafios seriam parecidos ao contratar um profissional de outra nacionalidade que não fala português”.
É fundamental compreender ainda as diversidades relacionadas às pessoas com perda auditiva, pois cada situação requer formas de comunicação próprias. A Língua Brasileira de Sinais, reconhecida como um segundo idioma, atende a uma parte do grupo muito bem, todavia, deve-se levar em conta os outros casos como as pessoas que se comunicam por leitura labial e os chamados surdos oralizados, que perderam a audição, mas contam com o aparelho auditivo.
E o fator preconceito…
Além das barreiras comunicativas, não se pode ignorar o preconceito existente em relação a pessoas com deficiência. Por falta de conhecimento a respeito ou por de fato não estarem acostumados a um ambiente de trabalho diverso, muitas vezes os demais colaboradores podem apresentar resistência para interagir com o colega com deficiência, trabalhar em equipe, entre outros. É preciso que as empresas combatam isso e se comprometam a criar um espaço de real integração. Mesmo que algumas empresas ainda não tenham reconhecido o potencial de trabalho e desenvolvimento de pessoas com perda auditiva, a mobilização de diversos grupos tem aumentado o debate sobre inclusão social. Em extensão a esse debate, é pertinente enfatizar o papel das empresas como na quebra de preconceitos, na plena inserção de pessoas com deficiência no mercado e nas transformações internas, a fim de que se tenha um espaço de real inclusão e não apenas um posto de trabalho destinado ao cumprimento da lei. Essa responsabilidade é também das agências e dos profissionais de RH, que são agentes indispensáveis para a evolução das relações de trabalho.
O que toda empresa precisa saber:
Pessoas com perda auditiva são igualmente capazes, inteligentes e comprometidas. As especificidades da comunicação não as impedem de serem profissionais brilhantes. O único obstáculo no caminho é o preconceito.
E o currículo: mencionar ou não a perda auditiva?
Uma dúvida frequente entre as pessoas com deficiência é se é recomendado ter essa informação no currículo. Sim! É importante para que a empresa possa avaliar as condições de recepção do candidato, bem como adaptar os meios de contato. Carolina recomenda ainda colocar mais detalhes: “Caso o profissional possua laudo médico, é importante também informar o número do CID. A principal dica é facilitar a leitura, deixando as informações separadas e organizadas”.
A lei de cotas
A lei federal exige que empresas com mais de 100 funcionários tenham, no mínimo, 2% de vagas direcionadas a pessoas com deficiência, acima de 1000 funcionários 5% das vagas e no funcionalismo público até 20% das vagas de concursos podem ser reservadas.
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De fato, as organizações devem assumir sua responsabilidade dentro do cenário da inclusão tanto para oferecer qualidade de vida no trabalho quanto para receber os benefícios da mão de obra dos colaboradores com perda auditiva. Afinal, há contrapartidas para a empresa também, como o potencial produtivo e intelectual desse trabalhador, a inovação, a humanização das relações e compromisso com o avanço da sociedade. Então, como tornar isso uma realidade?
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