A importância da reabilitação auditiva precoce para o desenvolvimento da linguagem oral de crianças com surdez
O diagnóstico da surdez e intervenção precoce, com utilização das tecnologias assistivas disponíveis para reabilitação da audição, possibilitam que a aquisição da linguagem oral seja próxima a de crianças ouvintes.
Confira também o nosso artigo sobre check-up auditivo em crianças: quais exames podem ser realizados
A aquisição da linguagem oral possui marcos para o acompanhamento do desenvolvimento da criança. Estes marcos auxiliam na prevenção, promoção da saúde da comunicação humana e na detecção precoce de algum tipo alteração não correspondente com o desenvolvimento esperado. Entre os marcos há reações e atos relacionados a capacidade auditiva, veja:
0 a 3 meses
• Está atento aos sons e se assusta com sons intensos.
• Se acalma com a voz da mãe.
• Chora, faz alguns sons, dá risadas sonoras.
• Observa o rosto.
3 a 6 meses
• Vira olhos e cabeça em direção ao som.
• Grita, emite alguns sons.
6 a 9 meses
• Reage quando é chamado pelo nome.
• Responde com tons emotivos à voz materna.
• Imita sons da fala e brinca, repetindo sons como “bababa” (balbucio)
• Imita sons diversos como de tosse, estalar de língua, vibração de lábios.
9 a 12 meses
• Balbucio em resposta a nossa voz.
• Começa a falar as primeiras palavras.
• Imita a ação de outra pessoa.
• Entende e pode repetir palavras comuns como “tchau”, “não”, “mamãe”.
12 a 18 meses
• Localiza sons vindos de todas as direções.
• Pede coisas, tentando falar o nome do objeto.
• Reconhece partes do corpo, pessoas e brinquedos.
• Responder a comandos verbais sem pistas visuais, por exemplo dar tchau, mandar beijo.
• Compreende e executa ordens simples, como entregar um objeto se você pedir.
• Sabe falar em torno de 20 palavras.
• Tenta organizar e falar frases pequenas.
• Utiliza gestos junto com palavras.
18 meses a 2 anos
• Consegue dizer frases curtas com duas palavras.
• Aprende a falar em torno de 200 palavras.
• Reconhece sons da casa, como campainha, latido de cachorro, barulho de chaves, toque de telefone, barulho do carro.
• Identifica utensílios domésticos e brinquedos.
18 meses a 2 anos
• Consegue dizer frases curtas com duas palavras.
• Sabe falar em torno de 200 palavras.
• Reconhece sons da casa, como campainha, latido de cachorro, barulho de chaves, toque de telefone, barulho do carro.
• Identifica utensílios domésticos e brinquedos.
2 anos a 2 anos e meio
• Consegue organizar uma frase com pelo menos metade das palavras corretas.
• Refere-se a si mesmo pelo próprio nome.
• Responde “sim” ou “não” em situações comuns do dia a dia.
2 anos e meio a 3 anos
• Organiza frases maiores, apesar da troca ou omissão de alguns sons na pronúncia.
• Faz perguntas.
Como podemos observar o desenvolvimento da audição e da fala caminham juntos, sendo que audição é fonte de aprendizado e meio pelo qual a criança recebe as informações para reproduzir o que escuta e organizar sua linguagem oral. A surdez, em qualquer grau, impacta negativamente o aprendizado da fala, por isso conhecer sobre a saúde auditiva da criança é extremamente importante para intervir se necessário.
Os primeiros anos de vida são decisivos para linguagem, comportamento e aprendizagem. É obrigatória a verificação da audição de todos os bebês pela Triagem Auditiva Neonatal (Teste da Orelhinha). O teste verifica possíveis perdas auditivas e deve ser complementado por outros exames, caso aponte falhas na audição do bebê. Após avaliação criteriosa e diagnóstico a reabilitação auditiva pode ser indicada com uso de próteses auditivas, como aparelho auditivo ou implante coclear.
A reabilitação auditiva de crianças surdas o mais precoce possível permite maior aproveitamento da grande neuroplasticidade da primeira infância (de 0 aos 3 anos). Em nenhuma outra fase da vida há tantas transformações no cérebro. Na primeira infância o cérebro vive um período único na vida para novas conexões, formação de novos neurônios e circuitos neuronais. O início apropriado para reabilitação auditiva de bebês que nascem com surdez deve ocorrer entre 3 e 6 meses de idade. Quanto mais tempo se espera pelo diagnóstico e tratamento da surdez menores as chances de bons resultados com a reabilitação auditiva. A intervenção no tempo adequado, incluindo abordagens da área de audiologia educacional, oferece a possibilidade de desempenho auditivo e de desenvolvimento da linguagem oral próximo a de crianças ouvintes.
A saúde auditiva das crianças também deve ser acompanhada após a realização da Triagem Auditiva Neonatal (Teste da Orelhinha). Ainda que a criança tenha passado pela triagem, logo após o nascimento, a avaliação audiológica deve ser realizada regularmente, pois alterações auditivas podem surgir com o passar do tempo. Imitanciometria, potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE/BERA), audiometria comportamental ou condicionada (conforme a idade e capacidade de compreensão da criança) entre outros, são exames que podem ser solicitados na avaliação do otorrinolaringologista e fonoaudiólogo.
Mariane Gomes | Fonoaudióloga | CRFa 6-7530
Referências:
Schirmer CR, Fontoura DR, Nunes ML. Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. J Pediatr. 2004;80(2-supl):S95-S103.
JEHDI. Year 2019 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs.