Conte-nos sobre o histórico da sua surdez:

Quando eu nasci em pouco tempo tive muitas infecções nos ouvidos e não conseguiam encontrar a causa. Eu e minha família morávamos no interior do Espírito Santo e não tínhamos muitos recursos, porém faziam todo o possível para tratarem minhas infecções de ouvido.

Com quase um ano, meus pais notaram que eu me esforçava para entender o que falavam. Nesse momento perceberam que tinha algo errado e buscaram ajuda dos médicos da cidade de Colatina/ES. Lá os médicos solicitaram uma bateria de exames e logo me indicaram para um especialista de renome em São Paulo, onde finalmente descobriram a razão de eu não poder escutar: nasci com uma obstrução nasal óssea, e não tinha a ventilação necessária para o ouvido, que também estava obstruído.

Fiz uma cirurgia no nariz para corrigir a falta de ventilação para o ouvido, mas já era tarde para recuperar a audição que havia perdido.

Aos 2 anos, graças à ajuda do meu Avô Alime, comecei a usar aparelhos auditivos nos dois ouvidos. Fiz sessões com fonoaudióloga para reabilitação auditiva por alguns anos, mas confesso que odiava fazer. Nunca estudei Libras, mas atualmente desejo aprender, pois gostaria de poder me comunicar por língua de sinais também.

Após algum tempo as infecções nos ouvidos voltaram ser recorrentes e tivemos que buscar outros médicos para nos aconselhar. Fui indicada a consultar um médico de Belo Horizonte/MG, onde foi descoberto que eu tinha Colesteatoma no ouvido médio e na mastoide.

Então, aos 9 anos, passei por cirurgia no ouvido direito devido ao colesteatoma. Posteriormente, aos 11 anos, tive uma grande infecção ouvido esquerdo, também com formação de Colesteatoma, e foi realizada outra cirurgia. Desde então tenho que cuidar bem dos ouvidos para não inflamarem e infeccionarem para evitar que o Colesteatoma volte. Já se passaram 19 anos, nesse tempo meus ouvidos tiveram algumas infecções, mas sem Colesteatoma. Faço o acompanhamento médico sempre!

Qual a importância da reabilitação auditiva na sua história?

Os aparelhos auditivos são meus companheiros! Ajudaram no meu desenvolvimento e na minha comunicação desde pequena. Se não tivesse começado a utilizar aparelho auditivo desde pequena hoje não conseguiria me socializar. Muitos médicos se surpreendem com minha comunicação e por eu estar falando, apesar da grande perda auditiva que tenho.

Como você encarou a surdez na infância e adolescência?

Já sofri bullying na época da escola e em outros lugares, e para me proteger colocava muitas barreiras entre mim e as pessoas. Mas hoje me aceito e aceito a forma como eu falo, não tenho mais vergonha. Aos poucos fui saindo do armário da surdez para enfrentar os preconceitos que ainda existem e para melhorar a minha forma de lidar com as pessoas e minhas dificuldades.

Quais são seus desafios atuais em relação à surdez?

Um dos meus maiores desafios diários é ter que falar ao telefone pois tenho que adivinhar o que está sendo falado pois utilizo a leitura labial e fica difícil a compreensão. Mas me esforço e tento sempre atender o telefone. Outro desafio é quando a pilha do aparelho está acabando pois não é em todos os lugares que consigo encontra-las, por esse motivo sempre compro 2 cartelas para ter uma de reserva. Pegar chuva também é algo que me preocupa, pois tenho que proteger o aparelho auditivo, pois ele não é a prova d’agua.

Mas o desafio que é mais complicado são as pessoas que não sabem lidar com as deficiências. Por desconhecimento ou não se importarem já vão achando que nós, pessoas com deficiência, não somos capazes de conseguir de ter uma vida normal.

Qual mensagem você gostaria de deixar para o mundo e para as pessoas que estão lendo sua entrevista?

O Silêncio sempre fez parte do meu mundo! Quero mostrar para o mundo o quanto somos capazes, mesmo com as dificuldades sempre haverá um jeito de superar e aprender!

“SEJA A MUDANÇA QUE VOCÊ QUER VER NO MUNDO.”

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