eauriz entrevista: Thiago Perné
Quem conta hoje para o eauriz a sua história é o Thiago Perné, do @blogdospernes. Thiago tem 33 anos, mora em Goiânia e começou a perder a audição aos 10 anos. Ele faz uso de aparelhos auditivos e utiliza tanto a Libras quanto o português brasileiro para se comunicar, sendo adepto do Bilinguismo.
Thiago Pernés é professor de Libras e, em seu blog, compartilha seus sentimentos como surdo e divulga informações importantes sobre inclusão.
Confira a entrevista completa:
Conte-nos sobre o histórico da sua surdez:
Comecei a perder a audição por volta dos 10 anos de idade. Aos 12, a perda auditiva foi comprovada por meio de um exame de audiometria.
Minha família possui esse histórico da perda auditiva entre a pré-adolescência e adolescência: Mãe, duas tias, primas e minha irmã.
Quando e como foi a decisão de aprender Libras?
Eu fui o primeiro da família a aprender a Língua de Sinais ainda quando criança, mais ou menos na mesma época que comecei a perder a audição.
Eu sempre tive vontade de aprender a Língua dos Sinais e comecei a aprender o básico, por meio de um livro, o alfabeto e alguns sinais. Depois, fiz um curso e, junto com minha mãe, irmã, uma tia e suas duas filhas, começamos a frequentar as reuniões das Testemunhas de Jeová, onde tudo é ministrado diretamente por meio de Libras. A partir daí com o apoio da família e o contato quase diário com aqueles que também falavam em Libras, nos tornamos fluentes. Hoje, a Libras faz parte das nossas vidas.
Quando e como foi a decisão de utilizar aparelhos auditivos?
Eu comecei a usar aparelho mais ou menos com 18 anos. Minha mãe, duas tias e minha irmã já usavam.
Eu queria muito usar, mas não tinha condições de comprar. Acabei ganhando a prótese auditiva do governo aqui em Goiânia, e foi uma felicidade começar a ouvir melhor!
Como você avalia a diversidade das formas de comunicação dos surdos e a importância do Bilinguismo (uso da Língua Portuguesa e Libras)?
Costumo pensar que estou num país estrangeiro, numa sala de vidro, à prova de som. Todos os dias, as pessoas vêm até mim e tentam falar comigo por meio desse “vidro imaginário”. Eu não consigo ouvir o que falam. Apenas vejo o movimento dos seus lábios. Percebendo que não as compreendo, elas “gritam, pulam e fazem cambalhotas” e até escrevem aquelas mesmas palavras num papel e me mostram através do vidro o que escreveram. Essas pessoas acham que eu deveria entender o que está escrito. E como me saio? Muito mal! A comunicação seria, a bem dizer, impossível nessa situação. Por quê? Porque o que essas pessoas falam representa uma língua que eu não compreendo.
Essa é exatamente a situação de muitos surdos. Posso entender melhor que muitos deles, mas ainda me saio mal, e sairia pior se não tivesse a Libras na minha vida. A Língua de Sinais me proporciona uma melhor qualidade de vida, alegria, independência e até humildade.
Todas as formas de comunicação são válidas, não importa se tentam escrever ou fazer mímicas, desde que seja feita com respeito e sem a obrigação de me fazer entender algo que para mim não é normal ou não é a minha realidade. Mas o ideal, para mim e para muitos surdos é a Libras, e cada um tem o direito de escolher a melhor forma de comunicação. Forçar qualquer outro meio é triste e desesperador e, infelizmente, isso acontece.
Em uma pequena frase, dê uma dica para pessoas com perda auditiva.
Não desista de descobrir novos caminhos ou novas formas de comunicar: seja por meio da voz, Libras, implante ou aparelho auditivo. O importante é que a escolha seja sua e que você esteja seguro disso.
Qual mensagem você gostaria de deixar para o mundo e para as pessoas que estão lendo essa sua entrevista?
Demonstre empatia e ajude. Pergunte, não tenha vergonha de errar. Comunique-se com um surdo. Aprender nunca é demais, então aprenda também mais uma forma de comunicação: a Língua de Sinais.
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Meu site é o www.blogdospernes.com.br. Tenho o Instagram e uma página do Facebook também: “Blog dos Pernés”. Em todos eles procuro registrar meus sentimentos de alegria e tristeza como surdo, trago informações de como é o mundo onde a inclusão ainda engatinha. E ensino a Língua de Sinais para quem quer aprender.
Confira também a entrevista que fizemos com a Evelyn Glennie, premiada percussionista internacional que se deparou com a perda auditiva profunda ainda na infância.